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sexta-feira, 6 de novembro de 2015

PAPAI NOEL NÃO É DE ‘MARX’




Toda criança já ouviu falar do Papai Noel e os adultos, que já foram crianças, contam a velha história para as novas gerações. O que dizer sobre a mentira sob a barba branca artificial? Não estou opinando sobre a maneira de educar suas crianças, deixe-me prosseguir a história.
Papai Noel faz sua visita todo natal e, alguns pais dizem que ele só trará os presentes se a criança se comportar o ano todo. Outras versões contam que o bom velhinho (será bondade?) visita todas as crianças do mundo de deixa seus presentes sob a árvore decorada, ou no sapatinho deixado na janela, nas meias penduradas na lareira. Ele entra pela chaminé, deixa seu pacote e, se estiver com tempo ainda come os biscoitos e bebe o leite quente preparado especialmente para sua chegada.
Vejamos, ele visita todas as crianças e leva presentes em uma única noite e, ainda dizem que ele vive no Polo Norte. Alguém assim deve pertencer, no mínimo, a outro planeta, convenhamos.
No amanhecer do dia 25 todos acordam ávidos pelas surpresas, pelos pacotes que deverão estar nos devidos lugares, meticulosamente planejados. A euforia invade o corpo repleto de expectativas, a alegria efêmera flui pelos poros até que os embrulhos estejam rasgados, expondo a recompensa pelo bom comportamento do ano que chega ao fim.
Entretanto enxergo algumas brechas nesse conto ainda que seja uma expressão cultural adotada pelos povos. Seguindo a história nessa mesma perspectiva de generosidade extrema imagino a manhã do dia 25 vivenciada pelo outro lado do muro, um lugar cujas casas não tem chaminés, lareiras, uma árvore cheia de bolas reluzentes e luzes piscando. As crianças não penduram suas meias, não por falta de pregador, mas por não possuírem nem as mesmas, quem dirá uma casa com lareira. Desse lado do muro o Papai Noel não é esperado com leite e biscoitos, na verdade ele é esperado ansiosamente na esperança de levar o que comer para as pessoas que o aguardam.
As crianças que estão sob as estrelas nem sempre podem dormir e aguardar seus presentes na calada da noite, o frio as mantém acordadas, a fome é uma perseguidora que ronrona tão alto que chega a doer. Pergunto-me o que as crianças desse lado pensam ao se depararem com o vazio, com a falta de renas puxando um trenó, por não verem o bom velhinho, por não receberem seus presentes. Imaginam, talvez, que não tenham se comportado devidamente, que por não terem uma árvore bem bonita, chaminé  ou meias o Papai Noel não sabem que elas também o aguardam.
Pois então, o ‘bom velhinho’ parece menos bom agora, não é mesmo?! O final do ano, segundo economistas, comerciantes e mesmo consumidores, é tido como a época de maior lucro circulando, é o ponto G do capitalismo, das compras, dos contratos firmados que serão pagos no ano que se iniciará, ou não.
A realidade é que o Papai Noel não está nem ai para o bom comportamento das crianças, nem para o leitinho com bolachas, até porque, se comesse tudo o que lhe é deixado, gordo como já é, não passaria pelas chaminés e correria o risco de indigestão. O Papai Noel não passa de uma história mal contada por aqueles que, em seu íntimo acreditam que a sociedade é realmente democrática e igualitária, onde o ideal socialista é cor de rosa e funciona para os dois lados do muro, esse muro não se chama capitalismo, mas desigualdade. Não é o consumo desenfreado de uns que são sinônimos de desigualdade também, mas essas filosofias com nomes impactantes e ideais que não passam de hábitos culturais, sonhos repletos de brechas denominadas realidade.
O Estado não está repartido entre capitalistas e socialistas, mas se divide entre os que consomem e os que sonham com o consumismo.







                                          SIMONE ROCHA 06-11-15

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