Alguém pode me ouvir?
Alguém, por favor, poderia me
ensinar a andar? Temo envelhecer sem sair do lugar, sem dar os primeiros
passos.
Alguém me ajude?
Preciso enxugar essas malditas
lágrimas que fluem sem permissão. Não sei prendê-las dentro dos olhos que te
olham e se destroem.
Alguém se importa?
Se uma única alma sentar-se ao
meu lado e, com paciência, ouvir minha história, teria imenso prazer em
contar-lhe minhas filosofias.
Alguém me acorde?
Estou no mundo dos sonhos que
se tornam pesadelos no alvorecer, que não me despertam das ilusões da realidade
nem me mostram as verdades inseridas nos meus devaneios.
Alguém pode cantar?
Me ensine rodar na melodia da
sua voz. Não precisa ser para sempre, apenas nosso momento perpétuo satisfará
os anseios de dançar a valsa que jamais ensaiei.
Alguém me encanta?
Que não seja abstrato, que não
dilua ao me tocar nem vaze entre meus dedos. Não preciso de uma imagem bonita,
de um ideal perfeito, de alguém que invente sua personalidade para me encantar.
Alguém me encontra?
Estou aqui, esperando sua mão me
guiar para o mundo. Encontrem meu eu, está dentro de mim e não consigo puxar. Estou
sem forças, estou sem ar, sem voz para que possas ouvir o eco da minha alma e
me localizar.
Alguém me cala?
Esse clamor acendeu a chama do
desespero que havia amenizado com o tempo. Tapem os ouvidos, fechem minha boca,
libertem minha mente e silencie meus temores. Preciso de paz, preciso vencer
essa guerra que travei com comigo.
Alguém me perdoa?
Meus pecados estão aflorados,
perdi a pureza da infância, das brincadeiras nas ruas, dos pés descalços. Estou
conhecendo, me surpreendendo e me assustando com a imagem deturpada que
conheci. Não sou mais eu, sou uma que guarda várias outras personalidades.
Alguém me ama?
Já não importa mais. Depois dos
apelos mudos, das súplicas ocultas, do desprezo de vocês, basta. Eu aprendi a
me ouvir, me ajudar, me importar, me acordar, a cantar, me encantar, me
encontrar, me calar, me perdoar, me amar e a ser feliz.
Alguém precisa de ajuda?
SIMONE ROCHA 14-O2-2016
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