Toda
criança já ouviu falar do Papai Noel e os adultos, que já foram crianças, contam
a velha história para as novas gerações. O que dizer sobre a mentira sob a
barba branca artificial? Não estou opinando sobre a maneira de educar suas
crianças, deixe-me prosseguir a história.
Papai
Noel faz sua visita todo natal e, alguns pais dizem que ele só trará os
presentes se a criança se comportar o ano todo. Outras versões contam que o bom
velhinho (será bondade?) visita todas as crianças do mundo de deixa seus
presentes sob a árvore decorada, ou no sapatinho deixado na janela, nas meias
penduradas na lareira. Ele entra pela chaminé, deixa seu pacote e, se estiver
com tempo ainda come os biscoitos e bebe o leite quente preparado especialmente
para sua chegada.
Vejamos,
ele visita todas as crianças e leva
presentes em uma única noite e, ainda dizem que ele vive no Polo Norte. Alguém assim
deve pertencer, no mínimo, a outro planeta, convenhamos.
No
amanhecer do dia 25 todos acordam ávidos pelas surpresas, pelos pacotes que
deverão estar nos devidos lugares, meticulosamente planejados. A euforia invade
o corpo repleto de expectativas, a alegria efêmera flui pelos poros até que os
embrulhos estejam rasgados, expondo a recompensa pelo bom comportamento do ano
que chega ao fim.
Entretanto
enxergo algumas brechas nesse conto ainda que seja uma expressão cultural adotada
pelos povos. Seguindo a história nessa mesma perspectiva de generosidade extrema
imagino a manhã do dia 25 vivenciada pelo outro lado do muro, um lugar cujas
casas não tem chaminés, lareiras, uma árvore cheia de bolas reluzentes e luzes
piscando. As crianças não penduram suas meias, não por falta de pregador, mas
por não possuírem nem as mesmas, quem dirá uma casa com lareira. Desse lado do
muro o Papai Noel não é esperado com leite e biscoitos, na verdade ele é
esperado ansiosamente na esperança de levar o que comer para as pessoas que o
aguardam.
As
crianças que estão sob as estrelas nem sempre podem dormir e aguardar seus
presentes na calada da noite, o frio as mantém acordadas, a fome é uma
perseguidora que ronrona tão alto que chega a doer. Pergunto-me o que as
crianças desse lado pensam ao se depararem com o vazio, com a falta de renas
puxando um trenó, por não verem o bom velhinho, por não receberem seus
presentes. Imaginam, talvez, que não tenham se comportado devidamente, que por
não terem uma árvore bem bonita, chaminé
ou meias o Papai Noel não sabem que elas também o aguardam.
Pois
então, o ‘bom velhinho’ parece menos bom agora, não é mesmo?! O final do ano,
segundo economistas, comerciantes e mesmo consumidores, é tido como a época de
maior lucro circulando, é o ponto G do capitalismo, das compras, dos contratos
firmados que serão pagos no ano que se iniciará, ou não.
A
realidade é que o Papai Noel não está nem ai para o bom comportamento das
crianças, nem para o leitinho com bolachas, até porque, se comesse tudo o que
lhe é deixado, gordo como já é, não passaria pelas chaminés e correria o risco
de indigestão. O Papai Noel não passa de uma história mal contada por aqueles
que, em seu íntimo acreditam que a sociedade é realmente democrática e
igualitária, onde o ideal socialista é cor de rosa e funciona para os dois
lados do muro, esse muro não se chama capitalismo, mas desigualdade. Não é o
consumo desenfreado de uns que são sinônimos de desigualdade também, mas essas
filosofias com nomes impactantes e ideais que não passam de hábitos culturais,
sonhos repletos de brechas denominadas realidade.
O
Estado não está repartido entre capitalistas e socialistas, mas se divide entre
os que consomem e os que sonham com o consumismo.
SIMONE ROCHA 06-11-15