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sábado, 10 de setembro de 2016

INDEPÊNDENCIA ARTIFICIAL




Meus contratempos podem ser meus dessabores.
Vago pelos trilhos imaginários de uma trajetória insana repleta de lucidez.
Não sei se permaneço equilibrada nos traços que piso
Ou se desloco meus pés para o centro do alvo à espera que algo me atinja.
Minhas lembranças e esperanças se confundem no meio termo
Onde pretérito e porvir desprendem minha percepção de realidade.
Eu quero gritar e desfazer minhas escolhas
Permanecendo consciente da prepotência que me guiou.
Atos banais sucumbidos à arrogância da juventude.
Quero ser independente mas não sei andar.
Meus primeiros passos me levaram ao chão
E minha ideia de liberdade se atrelou as mãos dadas com meus pais.
Tentei seguir, mas minhas aventuras eram limitadas aos quarteirões do bairro onde cresci.
Mãe, eu não sou criança!
Mãe, “me dá” dez reais?!
Mãe, bata antes de entrar.
Mãe, cadê minha blusa azul?
Mãe, já sou independente.
Mãeeeeeeeeee!!!!!!!!!!
Perdida nesses termos coloquiais com traços de uma ligeira formalidade intelectual
Permito-me desencadear meus pensamentos para o fim do meu passado
Pretensiosamente atormentado pelo medo de um futuro sem perspectivas
Ou, à luz de uma ideia vivida.
Minha casa está em ordem,
O piso brilha,
Os móveis estão lustrados,
Louça lavada.
Minha mente está em desordem,
Sentimentos misturados a emoções,
Gaveta de sonhos abertas,
Eloquência jogada sob a cama,
Muitas lembranças lançadas para embaixo do tapete,
Desilusão no compartimento de felicidade enquanto esta
Encontra-se no cesto de roupa suja.


SIMONE ROCHA – 10-09-16



AD ETERNUM








Sobre a vida, posso mencionar fatos corriqueiros, mas minha personalidade, meu eu lírico, minha irritante pessoa não permite ser tão superficial assim. Por outro lado, me recuso a discorrer sobre problemas, e o saco cheio que a vida fez questão de transbordar.
Um café cairia bem, seu aroma me acalma, seu sabor me desperta para a realidade de que prefiro uma xícara de chá e, pelo desânimo acabo optando por um copo de água.
Sou impedida de viver pelas escolhas que teimo seguir. Durmo demais. Estudo de menos. Durmo demais. Vivo de menos. Estou limitando todo o livre arbítrio que possuo.
Palavras eloquentes me causam calafrios. Estou com tanto sono. Gostaria de ler Shakespeare, conhecer mais sobre Victor Hugo, e sinceramente, gostar de Poe, mas me impeço dessa aventura desconcertante, afinal, é hora de cochilar um pouco.
Quero conhecer a Europa, aproveitar o frio, fotografar a paisagem que vejo por outras fotos. Serei audaciosa, corajosa, enfrentarei o mundo com a mochila nas costas assim que acordar.
Vou adotar um cachorro, ou um gato, um pássaro... quero me dedicar a algo que precise de meus cuidados. “Vem Totó! Totó?! Cadê você?” O Totó morreu de fome enquanto eu descansava.
Tenho planos com meus amigos para quando formos bem sucedidos, vamos viajar juntos, aproveitaremos a vida. Ligarei para... não, ela se casou, aquela outra mudou de cidade, ele começou a namorar com aquela chata. Deixa pra lá, vou me enrolar nas cobertas.
Agora cansei de dormir, quero me exercitar, aprender uma nova língua, mas os médicos disseram que em breve dormirei "ad eternum". Tudo bem, já me acostumei a deixar a vida de lado.



SIMONE ROCHA - 10-09-16




domingo, 4 de setembro de 2016

MULTIDÃO DE VULTOS






Como permanecer estático
Quando as muitas águas já lhe mostraram
Que a persistência, se não desvenda, cria caminhos?
Os olhos vendados elucidam o que está sob nossas premissas anuviadas.
A infinita vontade de preservar o comodismo
Mata a ferocidade de viver, destrói as pontes feitas de sonhos,
Emudece a voz que tenta dissuadir nossos passos do precipício iminente.
Eu grito e ordeno que se calem.
O espanto nos olhos de quem vivenciou minha histeria
É o julgamento que dispensei aos que estavam ao meu redor por tempo demais.
Sou capaz de inovar meus degraus,
Incapaz de ferir meu orgulho.
Que desprezo pela vida!
A insatisfação, descontentamento, inquietação...
Existência sem motivação.
Vida sem propósito.
Os dias seguem, os anos passam,
A vida é morta pela infelicidade que permitimos nos afetar.
O que temos é uma escolha,
A desgraça não passa de uma opção para o pessimismo.
O desprazer é uma desculpa de pessoas que não querem viver
E culpam tudo pelo destempero de sua subsistência.
E as ruas estão repletas dessa gente vazia.



SIMONE ROCHA - 04-09-16

domingo, 21 de agosto de 2016

TUDO É VAIDADE




Olhei-a
Percebi os cacos estilhaçados por todo lado.
Aparência desfigurada
Amorfa, sem luz alguma.
Partes do que um dia fora e já não é
As lembranças se formaram, impertinentes
Sem permissão.
Uma construção demasiada longa
Trabalhosa,
Paulatinamente tomou forma.
Cada detalhe moldado ao construtor
Seu arquiteto empenhando amor
Seu trabalho sendo aprimorado para ser perfeito.
A obra tão cuidada
De estrutura sólida
Complementos singulares
Pilares seguros...
O vento soprou um dia
E tudo desabou.
A igreja tornou-se pó.
Olhando no espelho a máscara desfizera-se
A chuva caia lá fora
E as partículas d’água compunham uma canção de morte.
A igreja sucumbiu ao desejo
Desgastou-se de tanto ser contemplada.
Envaideceu-se
“Vaidade, tudo é vaidade”.
Quebrou-se. 






SIMONE ROCHA

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

AS ESTAÇÕES




 Sente-se aqui menina
Quero lhe falar sobre as quimeras dos meus anos
Das primaveras sem flores que a vida me fez assistir.
Venha cá, doce menina
Deixe-me contar as histórias sombrias
Das noites de inverno que assombram meus dias de sol.
Sabe menina, as férias de verão nem sempre nos trazem um amor
Às vezes as decepções são as surpresas que jamais esperamos.
Ah menina!
Descobri que a voz fala mais quando emudece
Que os gritos que clamam exortam os demônios
E que a preocupação deve se manifestar perante o silêncio.
Quando calares, então dirás o que sua alma suplica.
Venha cá, menina
Deixe-me te ouvir. 



SIMONE ROCHA




domingo, 14 de fevereiro de 2016

ALGUÉM AI?





Alguém pode me ouvir?
Alguém, por favor, poderia me ensinar a andar? Temo envelhecer sem sair do lugar, sem dar os primeiros passos.

Alguém me ajude?
Preciso enxugar essas malditas lágrimas que fluem sem permissão. Não sei prendê-las dentro dos olhos que te olham e se destroem.

Alguém se importa?
Se uma única alma sentar-se ao meu lado e, com paciência, ouvir minha história, teria imenso prazer em contar-lhe minhas filosofias.

Alguém me acorde?
Estou no mundo dos sonhos que se tornam pesadelos no alvorecer, que não me despertam das ilusões da realidade nem me mostram as verdades inseridas nos meus devaneios.

Alguém pode cantar?
Me ensine rodar na melodia da sua voz. Não precisa ser para sempre, apenas nosso momento perpétuo satisfará os anseios de dançar a valsa que jamais ensaiei.

Alguém me encanta?
Que não seja abstrato, que não dilua ao me tocar nem vaze entre meus dedos. Não preciso de uma imagem bonita, de um ideal perfeito, de alguém que invente sua personalidade para me encantar.

Alguém me encontra?
Estou aqui, esperando sua mão me guiar para o mundo. Encontrem meu eu, está dentro de mim e não consigo puxar. Estou sem forças, estou sem ar, sem voz para que possas ouvir o eco da minha alma e me localizar.

Alguém me cala?
Esse clamor acendeu a chama do desespero que havia amenizado com o tempo. Tapem os ouvidos, fechem minha boca, libertem minha mente e silencie meus temores. Preciso de paz, preciso vencer essa guerra que travei com comigo.

Alguém me perdoa?
Meus pecados estão aflorados, perdi a pureza da infância, das brincadeiras nas ruas, dos pés descalços. Estou conhecendo, me surpreendendo e me assustando com a imagem deturpada que conheci. Não sou mais eu, sou uma que guarda várias outras personalidades.

Alguém me ama?
Já não importa mais. Depois dos apelos mudos, das súplicas ocultas, do desprezo de vocês, basta. Eu aprendi a me ouvir, me ajudar, me importar, me acordar, a cantar, me encantar, me encontrar, me calar, me perdoar, me amar e a ser feliz.

Alguém precisa de ajuda?





SIMONE ROCHA 14-O2-2016

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

NOSSAS MUDAS




O comodismo que aprisiona
As escolhas na mesma esfera.
A preguiça pode ser um pecado
Que impede o dom da vida
E o comodismo é nosso consentimento
Para que a vida seja interrompida.
Acreditamos que permanecer estáticos
Perpetuará o tempo.
Ledo engano de quem não se move
Pois o tempo voa e as rugas se descobrem.
Paramos no tempo mas não paramos o tempo.
Quando sento-me no mesmo café
Faço o mesmo pedido
E permito que previsibilidade da minha vida
Responda quem sou eu,
Deixo de me conhecer.
Perco meu senso crítico pois não experimento nada novo
E as coisas velhas estão intrínsecas a mim
E elas, não tenho mais o que criticar.
Ao parar no tempo e não o tempo
Perdemos a essência,
O perfume cheira, agora, a mofo
A mente que deveria germinar as novas sementes
Observam as folhas mortas
Como quem senta num túmulo e contempla a morte.
Não devemos criar raízes
Mas produzir mudas que estenderão nossas existências.




SIMONE ROCHA (14-01-16)